EC2: Resistência Flexão simples e composta
6.1 Flexão simples e flexão composta
(1)P Esta secção aplica-se às zonas sem descontinuidades de vigas, lajes e outros elementos semelhantes cujas secções se mantêm aproximadamente planas antes e após o carregamento. As zonas de descontinuidade de vigas e de outros elementos nos quais as secções planas não permanecem planas poderão ser calculadas e pormenorizadas de acordo com 6.5.
(2)P A determinação da resistência à flexão última de secções de betão armado ou pré-esforçado baseia-se nas seguintes hipóteses:
- as secções mantêm-se planas;
- a extensão nas armaduras aderentes, em tracção ou em compressão, é a mesma da do betão que as envolve;
- a resistência do betão à tracção é ignorada;
- as tensões no betão comprimido são obtidas do diagrama tensões-extensões de cálculo, indicado em 3.1.7;
- as tensões nas armaduras de betão armado ou nas armaduras de pré-esforço são obtidas dos diagramas de cálculo indicados em 3.2 (ver a Figura 3.8) e 3.3 (ver a Figura 3.10);
- a avaliação das tensões nas armaduras de pré-esforço tem em conta a extensão inicial dessas armaduras.
(3)P A extensão de compressão no betão deve ser limitada a εcu2, o εcu3, conforme o diagrama tensõesextensões utilizado, ver 3.1.7 e Quadro 3.1. As extensões no aço para betão armado e no aço de pré-esforço devem ser limitadas a εud (caso exista); ver 3.2.7(2) e 3.3.6(7), respectivamente.
(4) Para secções com armaduras simétricas sujeitas a um esforço de compressão, é necessário considerar uma excentricidade mínima eo = h/30 mas não inferior a 20 mm, em que h é a altura da secção.
5) Em partes de secções sujeitas a esforços aproximadamente centrados (ed/h ≤ 0,1), como por exemplo os banzos comprimidos de vigas em caixão, a extensão média de compressão nessa parte da secção deverá ser limitada a εc2 (ou εc3 se se utilizar a relação bilinear da Figura 3.4).
(6) O domínio admissível de distribuições de extensões é o representado na Figura 6.1.
(7) Para elementos pré-esforçados com armaduras não aderentes de modo permanente, ver 5.10.8.
(8) Para armaduras de pré-esforço exteriores, considera-se que a extensão no aço de pré-esforço entre dois pontos de contacto sucessivos (ancoragens ou desviadores) é constante. A extensão no aço de pré-esforço é então igual à extensão inicial, obtida imediatamente após a conclusão da operação de pré-esforço, acrescida da extensão resultante da deformação da estrutura entre as zonas de contacto consideradas. Ver também 5.10.
A - limite para a extensão de tracção do aço para betão armado
B - limite para a extensão de compressão do betão
C - limite para a extensão de compressão simples do betão
Figura 6.1 – Distribuições de extensões admissíveis no estado limite último
3.1 Betão
3.1.7 Relações tensões-extensões para o cálculo de secções transversais
(2) Poderão utilizar-se outras idealizações para a relação simplificada tensões-extensões na condição de serem equivalentes ou mais conservativas do que a definida em (1), por exemplo um diagrama bilinear como representado na Figura 3.4 (tensão e extensão de compressão, expressas em valor absoluto) com os valores de εc3 e εcu3 de acordo com o Quadro 3.1.
εc3(0/00) = 1.75 para fck ≤ 50 MPa
εc3(0/00) = 1,75 + 0,55[(fck - 50)/40] para 50 < fck ≤ 90 MPa
y
εcu3(0/00) = 3.50 para fck ≤ 50 MPa
εcu3(0/00) = 2.6 + 35[(90 - fck)/100]4 para 50 < fck ≤ 90 MPa
Figura 3.4 – Diagrama bilinear de tensões-extensões
(3) Poderá considerar-se uma distribuição rectangular de tensões (ver a Figura 3.5). O coeficiente λ, que define a altura útil da zona comprimida, e o coeficiente η, que define a resistência efectiva, são obtidos por:
y
NOTA: Se a largura da zona comprimida diminuir na direcção da fibra extrema mais comprimida, o valor η·fcd deverá ser reduzido de 10%.
Figura 3.5 – Distribuição rectangular de tensões
3.2 Aço para betão armado
3.2.7 Hipóteses de cálculo
(2) Para o cálculo corrente, poderá admitir-se qualquer uma das seguintes hipóteses (ver a Figura 3.8):
- a) um ramo superior inclinado com uma extensão limite de εud e uma tensão máxima de k·fyk/γs, em que k= (ft/fy)k;
NOTA 1: O valor de εud a utilizar em Portugal é o seguinte:
- εud = 0.90·εuk
NOTA 2: O valor de (ft/fy)k é indicado no quadro C1 (Anexo C):
Quadro C.1 – Propriedades das armaduras
Varões e fios | |||
Classe | A | B | C |
Valor característico da tensão de cedência fyk ou f0,2k (MPa) | 400 à 600 | ||
Valor mínimo de k = (ft/fy)k | ≥ 1,05 | ≥ 1,08 | ≥ 1,15 |
Valor característico da extensão à tensão máxima, εuk (%) | ≥ 2,5 | ≥ 5,0 | ≥ 7,5 |
A- Diagrama idealizado; B- Diagrama de cálculo
Figura 3.8 – Diagramas tensões-extensões, idealizado e de cálculo, do aço das armaduras para betão armado (traccionado ou comprimido)
(3) O valor médio da massa volúmica poderá admitir-se igual a 7850 kg/m3.
(4) O valor de cálculo do módulo de elasticidade, Es, poderá admitir-se igual a 200 GPa.
Domínios de deformação
As deformações limite das seções, dependendo do tipo de solicitação, conduzem a admitir os seguintes domínios:
- Domínio 1: Tração simples ou composta em que toda a sessão está em tração. As linhas de deformação giram sobre o ponto A correspondente a uma extensão da armadura mais tracionada de εud.
- Domínio 2: Flexão simples ou composta em que o betão não alcança a deformação de ruptura à flexão εcu3. As linhas de deformação giram sobre o ponto A.
- Domínio 3: Flexão simples ou composta em que as linhas de deformação giram sobre o ponto B correspondente à extensão de ruptura à flexão de betão εcu3 definida em 3.1.7. A extensão da armadura mais tracionada é compreendida entre εud e εy, em que εy é a extensão correspondente à tensão de cedência do aço.
- Domínio 4: Flexão simples ou composta em que as linhas de deformação giram sobre o ponto B. A extensão da armadura mais tracionada é compreendida entre εy e 0.
- Domínio 4a: Flexão composta em que todas as armaduras estão comprimidas e existe uma pequena área de betão em tração. As linhas de deformação giram sobre o ponto B.
- Domínio 5: Compressão simples ou composta em que os dois materiais estão comprimidos. As linhas de deformação giram sobre o ponto C definido por a linha correspondente ao limite para a extensão de compressão simples do betão, εc3, definida em 3.1.7.
Chama-se eixo neutro da secção à linha de extensão zero. A distância a partir da fibra mais comprimida é representada pelo símbolo "x".
A variação do eixo neutro de - ∞ até + ∞ , determina todas as combinações possíveis de momento de flexão e força axial últimos na seção.
Verificação das secções rectangulares
As equações de equilíbrio que determinam o momento e força axial resistentes (Mu e Nu) são as seguintes:
(diagrama de interação axial-momento)
Domínio 1:
- ∞ < x ≤ 0
- Nu(x) = - As2·σs2[εs2] - As1·σs1[εud]
- Mu (x)= - As2·σs2[εs2]·(h/2-d') - As1·σs1[εud]·(h/2-d)
- εs2(x) = εud·(d'-x)/(d-x)
Domínio 2:
0 < x ≤ d · εcu/(εcu+εud)
- Nu(x) = η·fcd·λ·x·b + As2·σs2[εs2] - As1·σs1[εud]
- Mu(x)= η·fcd·λ·x·b·(h/2-λ·x/2) + As2·σs2[εs2]·(h/2-d') - As1·σs1[εud]·(h/2-d)
- εs2(x) = εud·(x-d')/(d-x)
Domínio 3:
d · εcu/(εcu+εud) < x ≤ xlim
- Nu(x) = η·fcd·λ·x·b + As2·σs2[εs2] - As1·σs1[εs1]
- Mu(x) = η·fcd·λ·x·b·(h/2-λ·x/2) + As2·σs2[εs2]·(h/2-d') - As1·σs1[εs1]·(h/2-d)
- εs2(x) = εcu·(x-d')/x
- εs1(x) = εcu·(d-x)/x
Domínio 4:
xlim< x ≤ d
- Nu(x) = η·fcd·λ·x·b + As2·σs2[εs2] - As1·σs1[εs1]
- Mu(x) = η·fcd·λ·x·b·(h/2-λ·x/2) + As2·σs2[εs2]·(h/2-d') - As1·σs1[εs1]·(h/2-d)
- εs2(x) = εcu·(x-d')/x
- εs1(x) = εcu·(d-x)/x
Domínio 4a:
d < x ≤ h
- Nu(x) = η·fcd·λ·x·b + As2·σs2[εs2] + As1·σs1[εs1]
- Mu/x) = η·fcd·λ·x·b·(h/2-λ·x/2) + As2·σs2[εs2]·(h/2-d') + As1·σs1[εs1]·(h/2-d)
- εs2(x) = εcu·(x-d')/x
- εs1(x) = εcu·(x-d)/x
Domínio 5:
h < x < ∞
- Nu(x) = η·fcd·[1- (1-λ)·h/x]·h·b + As2·σs2[εs2] + As1·σs1[εs1]
- Mu(x) = η·fcd·[1- (1-λ)·h/x]·h·b·[h/2-[1- (1-λ)·h/x]·h/2] + As2·σs2[εs2]·(h/2-d') + As1·σs1[εs1]·(h/2-d)
- εs2(x) = εc3·(x-d')/(x-h/2)
- εs1(x) = εc3·(x-d)/(x-h/2)